Os recentes números sobre o aborto em Portugal passaram entre os pingos da chuva sem que a turba tenha reagido ou manifestado qualquer tipo de comoção.
Muitas conclusões se podem retirar destes números, mas há 1 que é inquestionável: os abortos estão a aumentar.
Quem, como eu [Rui Castro], participou activamente na campanha que precedeu o referendo de 11 de Fevereiro de 2007, lembra-se das promessas dos defensores do Sim: com a liberalização do aborto até às 10 semanas, o número de abortos vai diminuir, fazendo de Portugal um país mais arejado e moderno.
Com um Governo socialista e adepto convicto das causas ditas fracturantes, o circo estava montado, encontrando-se, aparentemente, reunidas todas as condições para que a agenda progressista levasse a cabo aquelas que diziam ser as melhores práticas internacionais.
Cinco anos volvidos, no entanto, não se concretizaram as profecias. Com efeito, enquanto a taxa de nascimentos desceu a mínimos históricos, a verdade é que, como referi, os abortos aumentaram, revelando estes números aquilo que, para quem se opôs à liberalização, parecia uma inevitabilidade: o aborto é, hoje, para muitas pessoas, um método anticonceptivo financiado pelo Estado.
Um Estado, lembre-se, praticamente falido. Um Estado que se confronta todos os dias com a escassez de recursos e que tem que alocar os poucos fundos que ainda tem às chamadas intervenções urgentes e inadiáveis, como estas.
Estranho País o nosso que não consegue acabar com as listas de espera, que não consegue tratar a tempo muitas das vítimas das doenças fatais, mas que coloca os abortos no topo da lista das prioridades.
Paralelamente, e em sentido inverso aos cortes que os incentivos à natalidade têm vindo a sofrer nos últimos tempos – em obediência ao plano de austeridade imposto como contrapartida pelo resgate financeiro de que Portugal foi alvo –, importa sublinhar que os subsídios em caso de aborto se mantêm inalterados.
Quem aborta, para além de nada pagar pela intervenção, em Hospital público ou instituição privada, beneficia ainda de isenção de taxa moderadora e de uma licença até 30 dias, paga a 100 por cento pela Segurança Social.
Esqueçamos, no entanto, os números e centremo-nos no que, pelo menos para mim, mais releva. Por cada aborto que é feito, quaisquer que sejam os motivos, há uma vida humana que se perde.
Assunção Cristas, a actual Ministra da Agricultura, escreveu em Dezembro de 2006 que
Acredito que um dia, quando gerações futuras olharem para trás vão compreender com facilidade que a liberalização do aborto, onde ocorreu, foi, historicamente, um desvio no percurso civilizacional da luta pela promoção da dignidade do homem.É, em obediência a esta convicção que julgo permanecer intacta, que me dirijo aos actuais governantes, muitos deles comprometidos com esta causa, pedindo-lhes que ajam em consciência e que promovam, por todos os meios ao seu dispor, os valores que um dia afirmaram defender.
Este é um apelo à urgência. É urgente fazermos qualquer coisa. Porque, neste caso, a inércia é sinal de morte.
Por cada hora que passa, são duas as crianças que deixamos matar.
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Com grande tristeza minha, ao debater esta notícia com um amigo, ele fez a seguinte observação:
ResponderEliminar"Vamos proibir, vamos...
A seguir vamos cortar as árvores e matar as florestas, de certeza que deixamos de ter fogos florestais!"
O facto de proibir violações e assassinatos não faz com que deixem de os fazer. Do mesmo modo que matar é matar, não passa a ser correcto só porque é legal ou porque se criam condições de higiene para o fazer.
Já agora, não há estatísticas de mulheres que ficam com sequelas permanentes seja a nível físico ou psicológico devido ao aborto? E também de mulheres que abortaram e que se arrependeram amargamente? Penso que também seriam bastante convenientes...
ResponderEliminarSem dúvida que essas estatísticas são importantes, mas a meu ver, são secundárias.
EliminarIsso é o mesmo que tentar saber as "sequelas permanentes" que os nazis dos campos da morte obtinham por inalar o fumo que saia dos fornos onde os judeus eram mortos.
Não se luta contra o aborto porque deixa sequelas nas mulheres mas sim porque nenhum ser humano tem o direito de condenar à morte um ser humano inocente - qualquer que seja o seu estágio de desenvolvimento.
Para nós vermos que essa questão é muito secundária, pergunta assim: se se descobrisse uma forma eficiente de matar o bebé em gestação sem deixar qualquer tipo de sequelas (emocionais ou físicas) na mulher, será que isso mudaria a natureza do aborto em si?
A resposta é um rotundo não.