Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Sem dúvida um poema muito bonito Jairo! Um Feliz Natal para ti! Espero que estejas bem*
ResponderEliminarC.
Bela escolha de poema Jairo. Queria desejar (apesar de atrasado) um Santo Natal para ti e para os teus e, se possível, perguntar-te o que é que aconteceu com os teus outros dois blogues: Neo-Ateísmo Português e Arquivo Reaccionário. Era um leitor assíduo dos dois e, agora, sempre que lá tento ir a net diz-me que não é possível encontrar o blogue. Se acabaram tenho muita pena, já que me dava muito prazer ler os teus textos.
ResponderEliminarAbraço