quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Crime dos Partidos Descarados

por Nuno Serras Pereira

“A justa ordem da sociedade e do Estado é dever central da política. Um Estado, que não se regesse segundo a justiça, reduzir-se-ia a um grande bando de ladrões, como disse (Santo) Agostinho … A justiça é o objectivo e, consequentemente, também a medida intrínseca de toda a política. A política é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos públicos: a sua origem e o seu objectivo estão precisamente na justiça, e esta é de natureza ética.” (Bento XVI, Deus Caritas est, nº 28 a).


Impressiona a glacial desvergonha desaforada do psd e do cds com que publicitam, como se fora algo extraordinariamente audacioso e benigno, uma futura apresentação de propostas para cobrar “taxas moderadoras” para as mães grávidas, no caso do psd, que repitam o abortamento de um filho ou, no caso do cds, para toda e qualquer mãe grávida que queira abortar seus filhos, mesmo que se trate da primeira vez.

Esta crueza da “maioria absoluta” que parece assim pretender ocultar a sua perversa identidade sinistra revela pelo contrário um maquiavelismo sádico.

De facto, estas organizações partidárias que agora exercem o poder têm o dever estrito de garantir a justiça reconhecendo e tutelando a igual dignidade de todo o ser humano em todas as fases da sua existência, desde a sua concepção, ou estado unicelular, até à morte natural.

Sem este fundamento, isto é, o respeito do direito à vida, não existe nem estado de direito nem democracia nem bem comum. De modo que os políticos que detêm os poderes executivo e legislativo ao cumpliciarem-se com uma lei profundamente e gravissimamente injusta, tendo eles a obrigação e a possibilidade de a eliminar, tornam-se, lamento dizê-lo mas é a verdade dos factos, criminosos cuja ferocidade faz empalidecer e praticamente desaparecer a das organizações mafiosas - basta lembrar não só a quantidade de vítimas mas também a qualificação eminentemente tenebrosa, atroz e desalmada dos assassínios perpetrados:

“Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente perverso e abominável …

A gravidade moral (= a injustiça) do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio e, particularmente, quando se consideram as circunstâncias específicas que o qualificam.

A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor!

É frágil, inerme (indefeso, desarmado), e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido.” (João Paulo II, Evangelium vitae, 58).

Tudo isto que fica escrito, juntamente com todas as outras coisas que não me tenho cansado de redigir e de citar (por exemplo: O Triunfo da Vida e Ao Gólgota), mostra à saciedade, que não é devido nenhum respeito a qualquer referendo ou “lei” ou promulgação emanadas de qualquer órgão político que admita a ignóbil matança de inocentes.

E muito menos que os execute através dos serviços de saúde (!) do estado ou dos que com ele estão concubinados.

No entanto, mesmo para aqueles que absurda e erroneamente consideram que o referendo apesar de não ter sido juridicamente válido o tenha sido politicamente (Cf. A posição anfigúrica, à revelia da doutrina da Igreja, de D. José Policarpo), como o demonstra argutamente a Dra. Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida (cf Público, 07 de Junho de 2012, pág 47), a pseudolegislação actual produzida pela anterior maioria não encontra nele suporte, constituindo mais um abuso infame de poder ao financiar e subsidiar universalmente o abortamento.

O problema do desemprego é seguramente muitíssimo grave mas o principal problema social do país é o abortamento de tantas crianças e se há razão para sair à rua esta é a primeira de entre todas.

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