sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aborto: humanidade humanicida

De acordo com os cálculos dos peritos, durante o ano de 1970 provocaram-se em todo o mundo mais de cinquenta milhões de abortos. Supondo que esse índice tivesse permanecido igual (embora os últimos dados demonstrem um aumento), e computando apenas os cinco anos seguintes, provocaram-se, portanto, de 70 a 75, duzentos e cinquenta milhões de abortos.

Comparados com esta humanidade desaparecida em silêncio, o genocídio dos judeus durante a última guerra mundial, que parece ter estado à volta dos seis milhões de mortos, e a própria cifra total de mortos nessa mesma guerra, que chegou aproximadamente a cinquenta e cinco milhões, revelam uma diferença gritante.

E se agora – supondo que o índice de abortos de 1970 simplesmente se tenha mantido igual – computarmos a cifra global dos abortos provocados até o ano de 1980, o resultado é que numa só década, na qual vivemos como protagonistas, foram suprimidos mais seres humanos do que provavelmente em todas as guerras de que a humanidade tem notícia histórica.

Limitar-me-ei a formular quatro perguntas:

a) Se temos a experiência de que, do último grande conflito mundial e do genocídio judeu, acabaram por resultar tantas e tão importantes consequências, e dada a proporção que existe entre a importância de um facto e a dos seus efeitos, quais hão-de ser as consequências que recairão sobre uma humanidade que, se se consideram as cifras de abortos mencionados, só se pode definir como humanicida?

b) Será que a vida de quinhentos milhões de seres humanos, perfeitamente concretos e irrepetíveis, é algo de tão trivial e inútil que essa humanidade humanicida possa dormir tranquilamente, visto ter assegurado a sua impunidade histórica (sem mencionarmos a sua responsabilidade transcendente)?

c) E se, com efeito, a vida de tantos seres humanos (ou apenas a de um deles) é uma trivialidade, um sopro sem nome e sem destino, cuja supressão esvazia de sentido termos tais como “responsabilidade” ou “impunidade histórica”, que tipo de esperança tão radicalmente ilusória e infundada estamos então acalentando numa futura humanidade “mais humana”?

Como pudemos chegar a pensar que “futuro” e “esperança” eram palavras cheias de significado para os homens? Que estúpida ilusão mantemos ao sustentar a nossa crença na importância de todos os homens e no alto valor da sua dignidade “inviolável”?

d) Mas se é verdade que a vida de todo o ser humano, longe de ser trivial, é algo sempre importante, precioso, irrepetível, intocável, que destino histórico pavoroso está justamente reservado a esta humanidade humanicida! Que espécie de garra está atenazando a nossa garganta para que não grite, cada dia mais alto, contra este enorme e silencioso humanicídio?

Fonte: ABORTO E SOCIEDADE PERMISSIVA, de Pedro-Juan Viladrich, Quadrante, Sociedade de Publicações Culturais

1 comentário:

  1. No fim dos tempos ...o amor de muitos esfriará e a impiedade aumentará.

    Um cristão informado não se surpreende com o que acontece no mundo. E ajudando todo este caos, temos ainda a insensibilidade e ignorância de todos os que não conhecem Deus, não só entre ateus, neoateus e não cristãos, como todos os "cristãos culturais" que se deixam levar por qualquer "vento de doutrina".

    Já dizia Paulo em Rm10,14, de entre muitas coisas ... «a fé depende da pregação, e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo»

    Mais um belo texto, continue...é belo e inspirador, pena é que muitos fiquem de fora desse entendimento ... e que Deus promova, de acordo com sua vontade, as melhoras aos cegos, surdos e mudos.

    Côrte

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