« A Bíblia ensina claramente que o aborto é errado pois todo o ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus (Génesis 1:27 e Tiago 3:9). Tem, por isso, uma dignidade inigualável, sendo cada um de nós único e irrepetível.
Ora, antes de mais, o feto não é uma massa informe e gelatinosa, ou uma mera protuberância no ventre da mãe que pode ser extraído como se de um tumor, quisto ou dente se tratasse, ou mesmo um ser humano "em potencial". O feto é um ser, e ser humano.
A vida humana começa com a concepção, Quando o óvulo é fertilizado pela penetração do espermatozóide, os vinte e três pares de cromossomas ficam então completos. O zigoto tem um único genótipo que é distinto do dos pais: o sexo da criança; tamanho e forma; cor da pele, cabelos e olhos; temperamento e inteligência já estão determinados.
Cada ser humano começa com uma única célula fertilizada enquanto que, um adulto tem cerca de trinta milhões de células. Entre estes dois pontos (fusão e maturidade), quarenta e cinco gerações de divisões de células são necessárias, e quarenta e uma delas ocorrem antes do nascimento. Portanto, segundo a ciência, a vida humana começa com a concepção e é contínua, Quer intra ou extra-uterina, até à morte.
É pacífica a informação científica segundo a qual não há momento no tempo ou intervalo de tempo entre a concepção e o nascimento em que o ainda não nato seja qualquer outra coisa que não um humano.
Recorde-se, que ao vigésimo quarto dia o coração do bebé começa a bater; ao vigésimo oitavo as pernas e os braços já se tornam visíveis e o sangue corre nas suas veias num sistema circulatório próprio; ao trigésimo quinto dia a boca, orelhas e nariz tomam forma; à sexta-sétima semana o funcionamento cerebral pode ser detectado. No fim do primeiro trimestre o embrião está completamente organizado, e um bebé em miniatura repousa no ventre de sua mãe.
Estas afirmações científicas não contradizem a Bíblia. Em Actos 17:25 a Bíblia diz:
"Ele mesmo (Deus) é Quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas".
O salmista menciona:
"se lhes tiras a respiração, morrem". (Salmo 104:29)
Jó disse:
"Nu saí do ventre de minha mãe (...) O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor". (1:21)
Para o cristão, só Deus pode dar ou tirar a vida. Ora todo o ser humano é infinitamente amado por Deus:
"Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites ? Contudo, pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e honra o coroaste". (Salmo 8: 5-7)
"Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).
"Mas Deus dá prova do seu amor para connosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós" (Romanos 5: 8).
É bom de ver que, segundo a Bíblia, todo o ser humano tem um altíssimo valor. Não é, portanto, descartável, ou sucata. Não é algo, mas alguém, e alguém que é o nosso próximo, a quem devemos amar, como a nós mesmos (Mateus 22: 39).
A Bíblia ensina que Deus nos criou desde o ventre materno e que pretende relacionar-se connosco.
Assim, o Salmo 139:13 a 16 diz:
"Tu é que plasmaste o meu interior, me teceste no seio de minha mãe. Dou-te graças por tantas maravilhas; as tuas obras são admiráveis, conheces a sério a minha alma. Nada da minha substância escapava quando era formado no silêncio, tecido nas entranhas da vida humana; os teus olhos contemplaram-me em embrião, todos os dias se inscreviam no teu livro, até antes que um só. deles existisse."
Neste Salmo o autor maravilha-se com a omnisciência e omnipotência de Deus e, no curso da sua meditação, faz uma declaração importante sobre a nossa existência pré-natal. Ele afirma, pelo menos, três coisas importantes:
-A primeira diz respeito à criação: Deus é como um artesão habilidoso que o "formou", como o oleiro que trabalha o barro. O mesmo pensamento aparece em Jó 10:8:
“As tuas mãos formaram-me e fizeram-me"
; também nos versos 10 e 11:
"Não me espremeste como o leite e coalhaste como o queijo? De pele e de carne me revestiste, de ossos e nervos me consolidaste".
O salmista refere que o processo de crescimento embrionário não é casual, nem mesmo automático, mas trata-se de uma obra de habilidade criativa.
-A segunda ênfase do salmista recai sobre a continuidade. Ele já é adulto, mas olha para trás, para a sua vida antes e depois do nascimento. Refere-se a si mesmo, tanto antes como depois do nascimento, usando os mesmos pronomes pessoais "eu" e "mim", pois tem conhecimento de que durante a sua vida pré-natal e pós-natal ele é a mesma pessoa. Faz um levantamento da sua existência em quatro estágios:
1º - (v.1) "tu me sondaste" (o passado),
2º - (vs. 2 e 3), "sabes quando me assento e quando me levanto e conheces todos os meus caminhos (o presente);
3º - (v. 10) "ainda lá me haverá de guiar a tua mão e ela me susterá" (futuro);
4º (v. 13) "me entreteceste no ventre de minha mãe" (estágio pré-natal).
Quem pensa e escreve como homem crescido tem a mesma identidade pessoal como o feto no útero. Ele tem conhecimento de não haver descontinuidade entre o seu ser pré-natal e pós-natal. Ao contrário, dentro e fora do útero de sua mãe, antes e depois do seu nascimento, como embrião, bebé, jovem e adulto, ele tem a noção de que foi e é a mesma pessoa.
-A terceira ênfase reside na comunhão. O salmista sabe que há uma comunhão muito particular e pessoal entre Deus e ele. Cada um de nós já era pessoa no ventre de nossa mãe porque Deus já nos conhecia e amava.
Outras passagens bíblicas expressam o mesmo pensamento:
"O Senhor dirigiu-me a seguinte mensagem: antes de te ter dado vida eu já te conhecia; antes de a tua mãe te ter dado à luz, já eu te tinha escolhido, para seres profeta entre os pagãos." (Jeremias 1: 4 e 5)
"Escutem-me, povos das ilhas distantes, estejam atentos, povos longínquos. O Senhor chamou por mim, antes de eu nascer; Quando eu estava no ventre materno, pronunciou o meu nome. Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, bem guardada na sua aljava. E disse-me: 'Israel, tu és o meu servo; em ti se manifesta a minha glória.' Mas eu pensava para comigo: 'Em vão trabalhei e em vão gastei as minhas forças'. No Senhor é que eu tenho garantido o meu direito e no meu Deus a minha recompensa. E agora o Senhor declara-me que, desde o ventre materno, me formou, para ser seu servo, para conduzir a ele os descendentes de Jacob e congregar o povo de Israel à sua volta. Aos olhos do Senhor eu estou bem visto, Nele é que reside a minha força." (Isaías 49: 1 a 5)
"E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo. Exclamou com grande voz e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. E donde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre". (Lucas 1:41 a 44) Sublinhe-se que para o evangelista tanto é "criança" e "menino" a criança não nascida, como Jesus recém-nascido (Lucas 2:12-16), e como as crianças que eram trazidas para Jesus abençoar (Lucas 18.15)
"Tu cuidaste de mim desde o ventre de minha mãe e puseste-me em segurança nos seus braços. Antes de eu nascer fui entregue aos teus cuidados; desde o ventre de minha mãe, tu és o meu Deus." (Salmo 22:10 e 11)
"Mas Deus, pelo seu amor, escolheu-me ainda antes de eu nascer e chamou-me para o servir." (Gálatas 1:15)
"Quem me criou a mim criou-o a ele: o Deus único formou-nos a ambos, no ventre de nossas mães." (Jó 31:15)
"Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da que está grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas." Eclesiastes 11:5
A Bíblia também ensina que as crianças são uma bênção e fonte de grande alegria.
O Salmo 127:3 diz:
"Eis Que os filhos são herança da parte do Senhor; e o fruto do ventre o seu galardão."
Depois, a Bíblia reiteradamente condena a matança de um inocente e alega que Deus tem um particular cuidado pelos fracos e oprimidos.
Assim:
"Maldito aquele que receber peita para matar uma pessoa inocente" (Deuteronómio 27:25);
"O Senhor detesta (...) mãos que derramam sangue inocente" (Provérbios 6:16-17);
"Abre a tua boca a favor do mudo, a favor do direito de todos os desamparados" (Provérbios 31:8);
"Fazei justiça ao pobre e ao órfão; procedei rectamente com o aflito e desamparado" (Salmo 82:3).
A Bíblia também nos ensina a amar e a ajudar - servir o próximo que está em aflição e/ou com necessidades Como é o caso da grávida em dilemas e do seu bebé. Assim,
"Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a Lei de Cristo" (Gálatas 6:2);
"A religião pura e imaculada", diante de nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e, ás viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo." (Tiago 1:27)
"Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus ? " (I João 3: 17)
"Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas." (Efésios 2: 10).
Por último, a Vida vence a morte.
O Profeta Isaías diz: "Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos". (25:8)
O apóstolo Paulo, na sua 1a Carta aos Coríntios escreveu: "Tragada foi a morte... Onde está ó morte a tua vitória?... Graças a Deus Que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." (15:54-57)
A Bíblia anuncia que em Deus há lugar para o perdão e para o recomeço.
São conhecidos os efeitos nefastos de um aborto na vida da mulher.
Não há memória de uma mulher que tenha abortado e que não tenha sofrido por muitos anos. É o chamado síndrome pós-aborto. As emoções características de um estado pós-aborto, que podem durar anos a fio, são:
culpa, vergonha, medo, perda, raiva, remorso, depressão, ressentimento, ansiedade, fraca auto-estima, alucinações, sonhos-pesadelos relacionados com o aborto e a criança não nascida, sentimentos de quase loucura, desconforto na presença de crianças ou bebés e na data prevista de aniversário do bebé que não chegou a nascer; eventuais pensamentos suicidas; inibição sexual; eventual abuso de drogas e álcool; ataques de choro frequentes; quebra na sensibilidade e na comunicação, etc.
Um processo paciente de cura pode, contudo, aliviar e eliminar esta dor.
Porém, mais importante que o apoio psicológico, a educação ou acção, social são as boas novas de Jesus:
Ele veio consertar o coração que se partiu e trazer boas novas ao fraco. Ele nos chama a tratar a vida humana com reverência, tanto o não nascido, como a criança, o deficiente, o senil.
Importa recordar que há perdão em Deus (Salmo 130:4). Pois Cristo morreu pelos nossos pecados e nos oferece um novo começo. Ele ressuscitou e vive, e pelo seu Espírito pode dar-nos um novo poder interior de auto-controle. Ele está construindo uma nova comunidade caracterizada pelo amor, alegria, paz, liberdade e justiça.
Um novo começo. Uma nova comunidade. Isto é o Evangelho de Cristo. »
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei."
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Edição: Jairo Filipe por indicação de Duarte Rego.
Fonte do texto:
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